[MINHAS HISTÓRIAS] A MORTE

  Escrito por Otávio Braga
  
Ele andava rapidamente entre a multidão da Times Square, atravessava dentre o amontoado de corpos esgotados pelo trabalho. Levava a mão à boca de minuto a minuto, parando para tossir.
         - Essa asma ainda me mata! – falava a esmo, era apenas um par de pernas a mais que atravessava por ali.
        Olhou para os lados procurando-a e lá estava ela fitando-o de longe.
      Continua sua corrida desviando do numero infindável de pessoas. Murmurava desculpas a cada pé pisado, e “com licenças”, para que pudesse manter-se distante daquele ser que emanava mistério.
        “Como ninguém percebia uma ‘figura’ dessas andando pelas ruas de Nova Iorque?”. Pensava quando o sinal permitiu que atravessasse.

       Estava convicto que estava sendo perseguido. Havia visto Ela desde que embarcara no metrô, ainda no alvorecer do dia.

  ***
Aguardavam a condução chegar, levavam a mão à boca para apara os bocejos sonolentos, coçavam os olhos adormecidos, liam as noticias cotidianas. Ele segurava um exemplar do The New York Times. Esperando, como todo ser humano que sempre aguarda algo enigmático, que neste último caso era o veículo.
       O vagão aconchega-se no calor da estação, e o aglomerado acotovelava-se para poder transpor o portal metálico.
       Passando-se o tumulto, Ele senta-se ao lado de um jovem que ouvia Pink Floyd às alturas. Lembrou-se de sua juventude e ficou imerso observando a luz que piscava no teto. E quando, finalmente volta a si, percebe um par de olhos lúgubres a contemplá-lo.
         A dona dessas pupilas era bonita e cândida, o cabelo alvos como sua epiderme, batia nos quadris, usava um pomposo vestido branco, mas o que mais amedrontava era sua íris negra que parecia um abismo infinito.
         Ficaram a trocar olhares. A porta automática abre quando chegam à estação. Ele sai, pensando que estaria livre daquele olhar sombrio, mas não estava.

 
 ***

        Parou no cruzamento, em frente ao Mama Sbarro’s, e repetiu as ações que realizara constantemente nas ultimas horas: levou a mão à boca, tossiu, olhou para os lados, viu-a, esperou o semáforo ficar vermelho para poder atravessar.
       Mas, contrariando o que tinha feito antes, não esperaria o sinal fechar, Tentaria passar agora por uma brecha em meio aos veículos perenes. Isso mesmo, “Tentaria”, pois no decorrer de sua travessia, um táxi, daqueles amarelos, choca com seu corpo e ele jaz ali mesmo no asfalto quente.
       Agora, Ela chega ao seu alvo, leva seus lábios até a testa do corpo que estava prestes a perecer. Toda dor que este sentia se esvai nos lábios dela.
     Ela coloca as mãos em seu peito e a alma dele desprega-se de vez do corpo. Ela aproxima o espírito do ouvido e escuta seu último pensamento.
       Abre as asas, que até então não estava ali, e voa para o eterno, para o paraíso, para o limbo, tanto faz, vão lado a lado como dois velhos amigos.
      A multidão volta os olhos rapidamente para o corpo sereno no meio do cruzamento, durante segundos, logo depois retornam a falar ao telefone. A Times Square continua frequente.

Para os interessados, o último pensamento Dele foi este: “Você é a morte? É eu sei que é. Mas você é tão bela, por qual motivo fogem de você?”.
E a resposta do Anjo da Morte: “Ora meu caro, imagine se não a temessem? Ninguém lutaria pela sobrevivência, ninguém... Sabe o porquê? A vida é bela demais para ser odiada.”

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