[RESENHA] ANARDEUS

Autor: Walter Tierno

Nº de Páginas: 182

Editora: Giz Editorial

Classificação: quatro estrelas (mais como esse)

Anardeus nasce feio, cresce ignorado e se torna um adulto desagradável. Sente muito frio, o tempo todo, e só desfruta o conforto do calor quando testemunha tragédias e horrores. Ele odeia tudo e todos, menos sua irmã gêmea, Isabel, sua antítese: linda, amável e cheia de calor. Anardeus, com a sua personalidade detestável, é um anti-herói incomum e, por isso mesmo, tão interessante. O mundo não deseja Anardeus. Anardeus não deseja o mundo. Mas terão que viver juntos até o final apocalíptico e perturbador. Anardeus, no calor da destruição tem como cenário São Paulo e seus personagens cínicos, loucos, egoístas. Um romance sem rótulos ou lugar-comum, para ler e sentir tudo - menos indiferença.

Isabel pode ser considerada um dos mais belos seres que vieram a nascer de uma mulher: ela é bonita, inteligente, carismática e é uma criatura calorosa. 

Tudo que Isabel tem, é o que falta em Anardeus. Logo que ele nasceu, despertou nojo imediato até nos médicos que realizaram seu parto. Não é apenas o nome, Anardeus, que é ─ assim por dizer ─ feio. A feiura é passada até para a aparência física deste. Enfim, Anardeus é um ser odioso, feio, nada carismático e que sofre de um frio constante. 
Anardeus odeia a tudo e a todos, e a partir desse ódio (aparentemente) começam a acontecer “acidentes intencionados” por uma força maior (essa “força maior” proveria de Anardeus, aparentemente), os “acidentes” vão desde batidas de carros até aviões destruindo prédios ou uma epidemia assolando a população. 

Ninguém consegue me encarar. Minha tristeza deliciosamente horrorosa, sombria e árida. Até tento, mas não choro. Estou muito ocupado decifrando almas, catalogando hipocrisias e farejando obscenidades.

página 42

O livro foi escrito por Walter Tierno, e publicado pela Giz Editorial. “Anardeus – No Calor da Destruição” é um livro bem breve e bem “pesado” ─ todos acontecimentos e até a linguagem ─, mas mesmo assim eu gostei bastante deste livro, embora pensasse ao contrário quando havia começado sua leitura. 

O livro é narrado em primeira pessoa e possui três narradores: os dois irmãos, Anardeus e Isabel; além de um “fotógrafo” que tem capacidade de “ver” Anardeus. 

O que mais gostei do livro, foi sem dúvida, essa fantasia envolta de realidade (ou seria ao contrário?). 

E ao final de sua leitura, ele deixa impresso aquele sentimento de que a narrativa foi mais do que apenas palavras escritas ali (é muito doido!). É como o próprio Walter deixou no seu autógrafo: “O perigo, Otávio, não é ver Anardeus... é compreendê-lo!”.

O apartamento de Marcelo se transforma em escombros e fumaça, junto com outros tantas pessoas que nunca vi, mas sei que merecem morrer. Todos merecem, afinal, não é a recompensa universal?

página 78

Escrito por Otávio Braga